Já as folhas do curculigo, largas e plissadas, batem umas nas outras, ondulando em movimento harmonioso. Os cachorros parecem apreciar esse som, pois sempre se metem na touceira e lá por dentro ficam caminhando, como se por prazer, um entra-e-sai diário. As folhas mais largas do curculigo são bem duras e soam diferente das bananeiras, também largas porém molengas, e que produzem um som mais macio nas suas franjas.
02/06/2014
A música da natureza
Escrito por Silvia Valentini em 02/06/2014 | Categoria (s): Poesia | Comentários: 0
Antes de nós
Ricardo Reis - por Fernando Pessoa
Hoje
é um dia de vento. E num dia assim a natureza dá a impressão de se comunicar
conosco de maneira mais intensa. As áreas sombreadas ficam fresquinhas, quase frias. Mas, quando nos expomos ao sol, de imediato nos deixamos envolver por um calor gostoso.
A
vegetação tem maneiras diferentes de se comunicar. Lá no alto, as folhas das
palmeiras produzem um som fininho, de folhas de papel. O som do bambu ao vento
também sabe ser sutil, nas suas folhas delicadas. Mas o bambu gigante range,
poderoso, lembrando som de carro de boi, e estrala, ao esbarrar um no outro.
Já as folhas do curculigo, largas e plissadas, batem umas nas outras, ondulando em movimento harmonioso. Os cachorros parecem apreciar esse som, pois sempre se metem na touceira e lá por dentro ficam caminhando, como se por prazer, um entra-e-sai diário. As folhas mais largas do curculigo são bem duras e soam diferente das bananeiras, também largas porém molengas, e que produzem um som mais macio nas suas franjas.
Já as folhas do curculigo, largas e plissadas, batem umas nas outras, ondulando em movimento harmonioso. Os cachorros parecem apreciar esse som, pois sempre se metem na touceira e lá por dentro ficam caminhando, como se por prazer, um entra-e-sai diário. As folhas mais largas do curculigo são bem duras e soam diferente das bananeiras, também largas porém molengas, e que produzem um som mais macio nas suas franjas.
Mais
um pouco e começará a chover. Aí sim, será possível perceber bem o ressoar das
folhas, a música diferente que cada uma delas sabe entoar.
O professor
americano John M. Hull, nascido em 1953, aprendeu a perceber e apreciar essa
música. Cego desde 45 anos de idade, ele descreve um dia de brisa suave:
Isso traz todos os sons do meio ambiente. As
folhas sussurram, pequenos pedaços de papel voam pela calçada, os muros e
esquinas dos grandes prédios distinguem-se sob o impacto do vento, eu posso
sentir no cabelo, na face, nas roupas. Um dia meramente morno, eu suponho que
seja agradável, mas o vento torna tudo mais emocionante, pois subitamente
propicia o sentido de espaço e distância. O trovão coloca o telhado sobre a
minha cabeça, bem alto, abobadado, estrondoso. Eu entendo quando estou em um
espaço grande, considerando que antes nada percebia. A pessoa que enxerga
sempre tem um teto sobre sua cabeça, na forma de céu azul, nuvens, ou estrelas.
O mesmo acontece para pessoas cegas, com o som do vento nas árvores. Ele cria
árvores, a pessoa passa a se sentir cercada de árvores, quando antes não havia
nada.
HULL, John M. On sight &
insight – a journey into the world of blindness. Oneworld, 1997. Tradução
minha.
Curculigo - Curculigo capitulata
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